Adusb e coletivos promovem debate sobre o combate ao racismo no Brasil

Como parte da programação do Novembro Negro promovido pela Adusb e coletivos, foi realizada a mesa redonda “O combate ao racismo frente à estrutura sócio-política no Brasil” nos três campi da Uesb. O evento ocorreu na sede da Adusb de Vitória da Conquista no dia 27 e em Jequié e Itapetinga no dia 28. Os debates contaram com a participação de estudantes, professores e militantes de movimentos sociais.

Kleicia Souza, estudante de História da Uesb e representante do Coletivo Feminista Obá Elekó, destacou a importância do tema ao discorrer sobre os 130 anos de abolição sem a devida reparação social e histórica. A reparação diz respeito ao processo de igualdade de condições nas áreas da educação, profissional e cultural para o povo negro.  Kleicia afirma que “o racismo está para além das relações sociais. Ele está em lugares de poder que são (considerados) não lugares para o preto. Lugares que os negros acessam por resistência”.

A estudante identifica um desdobramento do racismo institucional “ao serem negados o conhecimento de autores negros aos estudantes” nos espaços acadêmicos. Na presente conjuntura em que grupos conservadores aumentam sua atuação no cenário político do país e, especificamente, em que o candidato eleito a presidente faz declarações discriminatórias, o povo negro necessita “mais do que resistir, o importante agora é se manter vivo”, conclui a estudante.

Mariane Nunes, estudante de História da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e Coordenadora Estadual do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro, também fez parte da mesa. Ela pontuou o mito da igualdade racial no Brasil. Mesmo sendo maioria, 53,6% da população, “a história mostra que o negro não tem os mesmos direitos dos demais cidadãos”. A estatística de que 71% das mortes violentas no país são de pessoas negras é resultado da ação de “um estado que mata a população negra”, destaca a militante.

A proposta de lei 13.260/2016, chamada lei antiterrorismo, foi classificada pela estudante como “um movimento do estado burguês para fazer com que a opressão e repressão se intensifique”.  Por colocar em risco o direito à liberdade de expressão e com o reforço encontrado na recente composição política conservadora e neofascista do país, a lei antiterrorismo terá como alvos principais movimentos sociais, ativistas e manifestantes negros.

Mariane destaca a necessidade de “construir uma frente antifascista a partir do diálogo com a sociedade” e defende a unidade do povo negro como estratégia para acabar com a naturalização do racismo. “Apesar da nossa luta ser individual, nossa libertação deve ser coletiva”, completa.

Jhonatas Monteiro, professor da rede estadual de ensino da Bahia e militante do movimento negro e por moradia, foi o último palestrante da mesa. O professor aponta “os indicadores sociais” como comprovação do racismo no Brasil.

A construção do antirracismo se deu a partir das diversas formas de enfrentamento adotadas pelo povo negro. No entanto, a ofensiva às pessoas negras se revela na perpetuação do “punitivismo”, processo social em que a cor da pele e lugar de moradia potencializam a figura do negro como “suspeito padrão”.

Com o avanço do conservadorismo religioso, o povo negro sente mais claramente a ilusória laicidade do Estado. O combate às religiões de matriz africana (candomblé, umbanda etc) constitui assim um dos pilares centrais do racismo e discriminação no país. Jhonatas defende o protagonismo negro no processo de sua emancipação e que “a luta antirracista deve ser um compromisso público”.