Racismo estrutural é denunciado em mesa do Seminário Gênero, Raça e Classe

As marcas dos mais de 300 anos de escravidão do Brasil na atualidade foram discutidas na tarde do dia 9 de maio, durante a mesa “Ser Negro e Negra numa Sociedade Escravocrata: Uma História de Luta”. A integrante do Conselho da Mulher de Vitória da Conquista e militante do Grupo Obá Elekó, Kleicia da Silva e o professor da rede estadual e militante do movimento negro, Jhonatas Monteiro, foram responsáveis por conduzir o debate.

O racismo foi considerado como parte estrutural do sistema capitalista, no sentido em que é fundamental para a maior exploração da população negra. De acordo com Jhonatas Monteiro, o andamento normal da sociedade é massacrante para negras e negros. “Para além dos grupos que se organizam ativamente em torno do racismo, a sociedade brasileira em seu modo de funcionamento produz como resultado o processo de subalternização permanente da população negra”, afirmou Monteiro. Prova disso são os dados que apontam negras e negros como os que ocupam postos de trabalho precarizados, são amplamente encarcerados e mortos.

Intervenção cultural da palestrante Kleicia (Kêu)

Jhonatas também defendeu que escravidão é tão brutal que leva à coisificação do escravizado, pois além de ser vendido como uma coisa, pode passar por um processo de internalização da condição de objeto. A situação se reflete na dificuldade em reagir. Contudo, “se a escravidão objetifica, retomar a humanidade significa se revoltar. As massas escravizadas só recuperam sua humanidade na medida em que se revoltam”, afirmou.

Os séculos de açoite e o processo de marginalização de negras e negros desde a abolição da escravidão foram relembrados por Kleicia Souza. A militante configura o racismo hoje como um “novo formato de chibata” e responsabiliza “o pensamento colonizador” como um elemento importante na permanência das mulheres negras no ambiente doméstico e com a erotização do corpo negro. Enfatizando a falta de reparação por parte do Estado, Kleicia também apontou as atuais moradias populares, habitadas na maioria por negros e negras, localizadas nas periferias, como parte de um “processo de higienização social”.

Kleicia destacou as dificuldades que as mulheres negras enfrentam em serem vistas como iguais no ambiente de trabalho, entrarem e se manterem na universidade. Lamentou a vulnerabilidade social imposta por possuir um corpo feminino negro, o racismo estabelecido que a obriga a preparar os filhos negros a enfrentarem a sociedade racista. A militante afirma que “a luta do negro e da negra é constante” e que uma das soluções é “somar forças dentro do espaço universitário” para então avançar.