Curso de Formação Política e Sindical debate crise brasileira, ajuste fiscal e universidade

Ampla participação da comunidade acadêmica e debate acalorado marcaram a primeira etapa do Curso de Formação Sindical da Adusb ocorrida no dia 25 de fevereiro, em Vitória da Conquista. Na ocasião, o professor do Instituto de Economia da UNICAMP, Plínio de Arruda Sampaio Jr analisou elementos responsáveis pela crise brasileira e o ajuste fiscal. Discutiu ainda como a Universidade pode contribuir para a transformação da realidade e rumo à revolução brasileira.

Para o palestrante, a crise brasileira consiste principalmente no aprofundamento da desindustrialização, crescimento da dívida e ampliação da vulnerabilidade externa. A ideia de neodesenvolvimentismo, defendida pelo Partido dos Trabalhadores, de que o Brasil é um país emergente não se sustenta, já que é impossível conciliar desenvolvimento com a desindustrialização. O Brasil passa na verdade por um processo de reversão neocolonial.

O crescimento do país pautado na reversão das forças produtivas teria nos levado a uma política tal qual a vivenciada no período colonial, no sentido de que “não se liga a mínima para a forma como se vive o povo”, afirma Plínio. O país sofre com epidemias típicas das colônias como a dengue e a zika, que poderiam ser erradicadas com a universalização do saneamento básico. Outro exemplo citado foi a escassez da água, problema gerado pela falta de planejamento.

A neocolonização traz reflexos também para a Universidade, especialmente a pública, pois o ponto de partida para o conhecimento é o problema. Portanto, o pensamento brasileiro deve se organizar em torno dessas questões - que para o professor são a segregação social e o colonialismo - para então mudá-los. “A transformação disso é a revolução brasileira. Todo pensamento progressista, democrático brasileiro gira em torno da problemática da revolução brasileira, mas essa discussão foi proibida”, afirma Plínio Sampaio.

A ditadura militar criou o que Florestan Fernandes chama de a “anti-universidade”, caracterizada pela não discussão dos problemas. “Colônia tem Universidade? Colônia tem ensino superior, universidade não. A diferença entre ensino superior e universidade é a crítica. A universidade produz pensamento. O ensino superior transmite pensamento produzido no Centro. É essa a situação que estamos” define Sampaio.

Desse modo, a conjuntura coloca a necessidade histórica da revolução, da superação do capitalismo. É necessário romper com a “teoria da ignorância” da burguesia, discutir criticamente seus problemas e buscar soluções. “É essa luta de resistência, de debate da revolução que vai, na prática, conduzir o povo brasileiro a ela”, conclui Plínio.