Adusb promoveu curso de formação sindical

O sindicalismo brasileiro está se reconfigurando e a classe trabalhadora se reorganizando desde o início dos governos petistas. Esta foi a principal lição deixada pelo curso de formação sindical promovido pela Adusb-SSind, no campus de Vitória da Conquista, oportunidade na qual o Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos (ILAESE) foi apresentado à categoria. 

Ministrado pela ativista Érika Luciana Andreassy, do Paraná, e também da coordenação nacional do Ilaese, o curso abordou a história do sindicalismo até o contexto atual no qual os trabalhadores se encontram na berlinda do peleguismo das principais centrais sindicais existentes no país, notadamente a Central Única dos Trabalhadores (CUT).  

A primeira organização dos trabalhadores que se tem registro ocorreu por meio dos quebradores de máquinas, na França, pois achavam que as máquinas eram as responsáveis pela exploração. Com o tempo apareceram as associações de auxílio mutuo, tornando-se os embriões dos primeiros sindicatos, que surgiriam mais tarde de forma clandestina para poder defender seus interesses e se tornarem ferramentas fundamentais contra os exploradores. No Brasil os primeiros sinais de organização sindical aconteceram com a chegada dos imigrantes europeus que trouxeram a experiência de organização, lutas e conquistas de direitos. De caráter anarquista inicialmente, logo foram substituídas pelos comunistas do PCB.  

Em pouco tempo o sindicalismo combatente e autônomo dos primeiros anos do século XX, responsável por conquistas como redução de jornada, melhores condições de trabalho e aumentos salariais deu lugar ao sindicalismo de atrelamento ao Estado e colaboração de classes, contexto no qual Getúlio Vargas criou a CLT. No entanto, Érica Andreassy, refutou a ideia de benefícios dados por Vargas aos trabalhadores “o que ele fez, na verdade, foi consolidar o que já existia e atrelar os sindicatos à estrutura do estado”. Getúlio transformou estas conquistas em lei (CLT) para aparecer como o pai destas conquistas, para domesticar o movimento operário.

De fato a domesticação ocorreu e a classe trabalhadora brasileira só conseguiu sair da letargia 40 anos após, no processo de nascimento do novo sindicalismo e a criação da CUT no início dos anos 80.  

Sindicalismo no Brasil a partir do governo Lula

Na conjuntura atual o sindicalismo brasileiro engatinha o processo de reorganização e retomada da autonomia, haja vista o fim do ciclo da CUT e a sua completa adesão ao governo. A ideia foi comprovada com um balanço dos oito anos do governo Lula no qual se demonstrou que a CUT não faz mais o papel de sindicato combatente, pois se transformou em correia de transmissão dos interesses do governo. Para Érika Andreassy, neste momento existem duas estruturas sindicais no Brasil: a de harmonia social com a colaboração de classes e uma segunda, defendida pela CSP-Conlutas, que prega a luta de classe. 

Segundo ela, neste contexto, surgiu em 2004 a Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas) com o objetivo de criar uma nova consciência e unir a classe trabalhadora na perspectiva do sindicalismo classista e independente tendo como prioridade a luta direta, autonomia e o internacionalismo proletário. Em 2010 se transformou em Central Sindical Popular-Conlutas e hoje é uma das poucas entidades que faz frente aos governos. 

O papel dos sindicatos 

Os sindicatos são ferramentas fundamentais na luta dos explorados contra os exploradores, mas não é qualquer sindicato. Ao exemplificar, a monitora lembrou que precisa ser sindicato autônomo como o Andes-SN e não de caráter patronal como tem sido a postura do Proifes.  

De acordo com ela, ainda como resquícios do modelo getulista, alguns sindicatos se transformaram em extensão de setores da organização publica e prestação de serviços. Mas, para ela, os trabalhadores precisam de sindicatos que organizem a luta. Ressaltou que quem faz o sindicato são os trabalhadores: “pode ter a diretoria mais combativa, por mais força de vontade que a direção tenha, por mais determinada possível e com grande vontade de lutar, mas se não tiver a mobilização da categoria não chegará às conquistas”, explicou. 

Ao se debruçar sobre as desigualdades eminentes do sistema capitalista ressaltou que a única forma de mudar a situação é a luta do trabalhador, “a força que tem a classe trabalhadora unida e lutando é enorme e isso pode levar uma mudança em toda estrutura da nossa sociedade”. As vitórias e benefícios que os trabalhadores possuem foram conquistados com muita luta “nada foi dado de graça pelos patrões e governos”, pontuou. 

Avaliação 

A professora Ana Patrícia (DFCH), estudiosa do assunto, ressaltou a importância do evento promovido pela Adusb-SSind e avaliou que a discussão aconteceu “em um momento pertinente para se debater a atual conjuntura, o papel dos sindicatos neste processo dinâmico e polêmico, além de gerar uma reflexão relevante”.

Para a monitora, o evento “marca uma nova forma de atuação sindical na qual a Adusb-SSind quer mais do que organizar a categoria para lutar por questões econômicas. Ela quer ter uma atuação em que também possa formar novos dirigentes sindicais, formar a sua base para a luta política”. 

No dia 26 o evento será realizado no campus de Jequié com o membro da coordenação nacional do Ilaese, Fernando Antonio Soares (SP). Já no dia 31 será a vez de Itapetinga participar dos debates.