Movimentos de luta por moradia articulam ocupações simultâneas

O direito à moradia é a bandeira levantada de diversos movimentos populares que na madrugada de segunda-feira (7) ocuparam 10 edifícios do centro e zona leste de São Paulo. O objetivo central é pressionar governos municipais, estadual e federal a direcionar os programas habitacionais às famílias de baixa renda. A maior queixa dos movimentos é o aumento da especulação imobiliária e de facilidades às empreiteiras.
O movimento, que garante só deixar a ocupação após negociação concreta com o poder público, até o fim do primeiro dia de permanência nos edifícios não teve problemas sérios com a polícia. No entanto, no edifício localizado na rua Borges Figueiredo, no bairro da Moóca, os seguranças do local, armados, impediram a permanência das famílias. “Mesmo agindo de maneira pacífica, os responsáveis pela segurança do local ameaçaram atirar, então decidimos abandonar o local. Estamos manifestando exigências sem violência, por isso não colocaríamos em risco a vida de pessoas desarmadas contra outras armadas”, disse Osmar Silva Borges, coordenador da FLM (Frente de Luta por Moradia).
Outra questão que tem preocupado os movimentos diz respeito aos 53 prédios no centro que estão sendo desapropriados pela prefeitura de São Paulo. Para a coordenadora da UMM (União dos Movimentos de Moradia), Maria das Graça Xavier, as reivindicações e mapeamentos de locais para apropriação de interesse social agora merecem novas estratégias. Segundo ela, as informações colhidas em audiências públicas e reuniões são utilizadas para interesse comercial e têm beneficiado mais as empreiteiras do que as associações de famílias de baixa renda. “Quando entregávamos relatórios com endereços, metragens e outros detalhes sobre terrenos e edifícios para apropriação popular, pouco tempo depois recebíamos notificação de que o local reivindicado tinha possível contaminação. Estes mesmos terrenos, posteriormente, eram ocupados por empreiteiras para obras privadas. Hoje não passamos mais nenhuma informação ao poder público”, explica Graça.
Luiz Gonzaga da Silva, mais conhecido como Gegê, é um dos ativistas mais expressivos dentro dos movimentos de direito habitacional. Ele diz temer a repressão policial e criminalização da reivindicação popular. “Apesar de sabermos que estamos aqui por uma causa justa, temos a consciência de que precisamos estar preparados para o que for. Cassetetes, bombas de lacrimogênio ou o que vier. É um risco constante”, diz.
Em 2004 Gegê foi preso e só conseguiu liberdade recentemente. Ele foi acusado de envolvimento em um crime ocorrido em um acampamento do MMC (Movimento de Moradia no Centro) no mesmo ano da detenção, mas foi absolvido em júri popular em abril deste ano. O próprio promotor pediu a retirada de acusação e o caso tornou-se um dos mais emblemáticos sobre criminalizações dos movimentos populares pelo Estado.


Fonte:
Revista Fórum