Participantes divergem sobre eficácia do Encontro de Comunicação do ANDES-SN

Diretores, militantes e jornalistas que participaram do III Encontro Nacional de Comunicação do ANDES-SN são unânimes em destacar a importância e a qualidade do evento. Entretanto, divergem quanto a sua eficácia: há quem esteja otimista quanto à perspectiva de mais investimentos na política de comunicação do Sindicato Nacional, mas também há quem defenda que o quadro atual não sinaliza para os avanços que se fazem necessários.
O III Encontro Nacional de Comunicação Sindical do ANDES-SN, realizado em Brasília (DF), de 21 a 23/5, reuniu cerca de 60 pessoas interessadas em debater a importância da comunicação como ferramenta para estimular a ação política e em sistematizar as propostas para a política de comunicação do ANDES-SN apresentadas nas quatro etapas dos encontros regionais, realizados em Manaus (AM), Curitiba (PR), São Paulo (SP) e Cachoeira (BA), no mês de abril.
O relatório final do evento, considerado bastante tímido pelos participantes, elabora uma proposta de política de comunicação para o Sindicato Nacional, centrada em três eixos básicos: a valorização dos profissionais da área de comunicação, investimentos em comunicação interna (do ANDES-SN para suas Seções sindicais e para os docentes) e externa (do ANDES-SN para a sociedade) e, com a mesma importância, a definição de uma política global de comunicação, que reconheça a necessidade da sociedade brasileira avançar nesta área para usufruir de uma democracia de fato.

Expectativas positivas

O professor José Queiroz Carneiro, da diretoria da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Pará – Adufpa Seção Sindical considerou gratificante participar do Encontro e ver o interesse dos colegas, tanto jornalistas quanto diretores de seções sindicais, em aprimorar um setor tão delicado do Sindicato Nacional.
Segundo ele, as palestras e depoimentos marcaram expressivamente o encontro e serviram de base para os debates que se seguiram, até o encaminhamento final das propostas. “Os palestrantes, Vito Gianoti e José Arbex, ao falarem da importância da comunicação para a questão hegemônica do poder, mostraram com todas as letras a necessidade da organização para o combate ao autoritarismo que deriva do governo. Arbex e Gianotti são dois combatentes esclarecidos que não retocam a critica com que atacam todas as formas de alienação. E foram unânimes em defender a comunicação sindical, em graus variados, como forma de avanço para o movimento de oposição”.
O diretor elogiou também a participação dos jornalistas convidados que narraram como se dá o processo de comunicação nos sindicatos e movimentos em que atuam. “Os depoimentos do MST, com a jornalista Maria Melo, da Conlutas, com a jornalista Claudia Costa, do Sindicato dos Metalúrgicos, com Rodrigo Souza e do ANDES-SN, com a jornalista Najla Passos, foram referenciais para desvendar as dificuldades que o setor encontra para avançar na operacionalização das suas metas. Em síntese, as direções sindicais ainda reagem bastante em investimentos que contemplem o setor de comunicação, vital, como se sabe, para o crescimento de qualquer sindicato”.
Carneiro destacou, ainda, as dificuldades vislumbradas para o setor de comunicação no ANDES-SN, mas se mostrou otimista quanto aos possíveis resultados do Encontro. “O diretor do ANDES, Maneca, fez um candente desabafo, admitindo que as diretorias do Sindicato Sacional dos docentes, como tantos outros, continua refratária a esse apoio mais amplo à Comunicação. É muito provável que os firmes encaminhamentos que resultaram do Encontro Nacional, numa consolidação feita a partir dos encontros regionais, possa efetivamente contribuir para as necessárias mudanças que a Comunicação está a requerer”.

Críticas contundentes

Para o presidente da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Amazonas – Adua Seção Sindical, Tom Zé, a retomada das discussões acerca da comunicação no âmbito do ANDES-SN já acontece com muito atraso. “Nós travamos um bom debate sobre comunicação quando o Sindicato foi fundado, depois retomamos esse debate em 2000, mas, desde então, o tema foi sendo cada vez mais relegado a segundo plano. No ano passado, na etapa preparatória da Conferência Nacional de Comunicação, nós ficamos perdidos porque o Sindicato não possuía nenhuma diretriz de como deveria ser a atuação das suas Seções Sindicais”, exemplificou.
Tom Zé criticou também a forma como os encontros regionais foram organizados, o que demonstra que apenas uma pequena parcela da diretoria realmente se envolveu com a tarefa. “No Encontro de Amazonas, não houve participação das Seções Sindicais da região e nem mesmo de todos os representantes do ANDES-SN da Secretaria Regional. Os cartazes chegaram em cima da hora, o que prejudicou a divulgação do evento, e mesmo o representante enviado pelo GTCA não tinha muitas propostas para nos apresentar”.
O diretor elogiou a qualidade das mesas realizadas no encontro nacional, mas questionou a eficácia do evento. “Os membros da diretoria do ANDES-SN, nem da atual e nem da futura, não participaram. E eram eles quem mais precisavam ouvir as contribuições dos palestrantes sobre o papel da comunicação. Por que nós, militantes e jornalistas da área, já sabemos disso”.
Tom Zé acrescentou que está muito decepcionado com o fato de que o Sindicato Nacional docente não dá a devida importância à Comunicação, não entende o quanto o quadro político brasileiro precisa ser mudado nesta área para que a sociedade consiga avançar. “Sem o envolvimento da nova diretoria, sem a destinação de mais recursos, o Sindicato nunca vai avançar. Estou cada vez mais decepcionado com a falta de capacidade da nossa universidade de encontrar solução para os problemas que afetam a sociedade brasileira”, desabafou.


Importância história

A jornalista Aline Pereira, da Associação dos Docentes da Universidade Rural do Rio de Janeiro – Adur-RJ Seção Sindical, destacou a importância histórica da retomada dos debates sobre comunicação no âmbito do Sindicato Docente. “É premente que o ANDES-SN retome os debates e as deliberações congressuais sobre a sua política de comunicação, que deve ser entendida como um instrumento estratégico (e ideológico) de aproximação do Sindicato Nacional e seus filiados e a sociedade. O ANDES-SN tem uma inserção importantíssima na história da educação e da democratização brasileira e, tal dimensão, muitas vezes, fica relegada ao segundo plano porque não ultrapassa os muros da Universidade”, afirmou. 
A jornalista ressalta que, “diante da conjuntura de desmobilização e de individualismo, tem sido difícil levar informação e a mensagem para os docentes das próprias instituições de ensino – claro indicativo de que a política de comunicação do Sindicato Nacional tem que ser empreendida, fortalecida, difundindo as bandeiras de luta do ANDES-SN, que, não se limitam à defesa da universidade e do funcionalismo público”.
Para Aline Pereiria, o Sindicato Nacional tem um projeto político amplo, que alicerça as bases de uma sociedade mais justa e igualitária, o que deve ser propagado “aos quatro ventos”. “A hercúlea iniciativa do GTCA de fomentar o debate sobre a comunicação do ANDES-SN, por meio dos encontros regionais e do III Encontro Nacional, deve ser louvada. Foi um exercício de autocrítica, mas, principalmente, um espaço de retomada de diretrizes para a construção de uma política de comunicação que se revele eficiente não só para o ANDES-SN, mas para todas as suas seções sindicais”, resumiu.

Participação dos jornalistas

O jornalista Clayton Nobre, da Adua Seção Sindical, destacou a participação dos jornalistas no Encontro. “Avalio a participação de jornalistas nos eventos do Sindicato muito importante para que possamos ampliar os debates, conhecer outras demandas, professores e o próprio sindicato. Dentro de uma assessoria como as nossas, por exercermos um trabalho solitário quando comparamos com a dinâmica das redações de jornal diário, sentimos falta de debater com colegas as peculiaridades do jornalismo sindical. O evento preencheu essa lacuna”.
O jornalista ressaltou, ainda, a dificuldade da categoria de perceber as características da profissão. “Pude perceber que existe uma confusão em compreender a assessoria de comunicação, que se trata de um trabalho profissional, necessário e que deve ser valorizado. Penso que fizemos uma proposta de plano de comunicação necessária e muito simples, tendo em vista as condições de que dispõe o ANDES-SN. Nos próximos encontros podemos nos aprofundar mais nos debates”, concluiu.

Fonte: ANDES-SN