Evento em Itapetinga debate necessidade de organização das mulheres negras

Em continuidade às atividades do dia internacional das mulheres negras, latino-americanas e caribenhas, a Adusb realizou em Itapetinga uma roda de conversa na quinta-feira (15). O grupo de trabalho de política de classe para questões étnico-raciais, gênero e diversidade sexual da Adusb organizou a atividade, que debateu a necessidade de organização das mulheres negras. Vitória da Conquista receberá a última etapa do evento no da 21 de agosto.

A origem e a importância do dia internacional das mulheres negras, latino-americanas e caribenhas foram discutidas pela professora do IFBAIANO, Izanete Souza. As trajetórias de mulheres negras que são referência na luta contra o machismo e o racismo foram apresentadas, como Teresa de Benguela, Carolina de Jesus, Esperança Garcia e Maria Felipa. A recente recusa de patrocínio da Capes para evento que contaria com a participação de Conceição Evaristo, importante escritora negra, foi considerada como mais um ataque do governo Bolsonaro à educação e à luta antirracista. Izanete ressaltou a necessidade de organização e mobilização das mulheres negras para combater o cenário atual de retrocessos. “Nosso papel é grandioso porque não podemos nos deixar intimidar. Nós não podemos paralisar. Nós precisamos agir. Nós precisamos ocupar os espaços”, disse.

As tentativas violentas de normatização da população negra sob a perspectiva do homem branco, especialmente das mulheres, foram abordadas pela professora da Uesb, Edmacy de Souza. “Os discursos hegemônicos e pedagógicos acabam incutindo e sedimentando esses discursos de tal forma que às vezes o próprio sujeito começa a pensar que é esse sujeito inferior”, afirmou. Edmacy lembrou que as políticas públicas étnico-raciais existentes na atualidade são fruto da luta organizada dos movimentos sociais e apontou a organização política como forma de enfrentar a retirada de direitos.

Letícia de Souza, professora da Uesb, afirmou que o Brasil ainda carrega o peso da desigualdade racial e criticou a atual organização social em que vidas negras não são consideradas importantes. A docente apresentou dados sobre a violência contra as mulheres negras e a exclusão do ensino superior, etapa em que apenas 10% das mulheres negras consegue concluir. “É fundamental lutar por uma transformação radical em nossas universidades, pondo abaixo sua estrutura racista e levantando uma universidade que produza conhecimento voltado aos trabalhadores, às mulheres negras e toda a população”, defendeu Letícia.

Mariana Lima, idealizadora do Coletivo Afro, disse que a ideia de organizar o grupo partiu de um processo de racismo no ambiente escolar de um familiar. O Coletivo Afro surgiu, portanto, com o objetivo de valorizar a raiz negra e combater o racismo, responsável por discriminar mulheres negras no mercado de trabalho, por exemplo.

O processo de criação do Coletivo Oxe Marias foi compartilhado por Gemima Macêdo. A estudante de pedagogia contou que em um espaço do movimento estudantil foi possível perceber diversos relatos de relacionamentos abusivos e processos de violência enfrentados por mulheres. A partir daí surgiu a ideia de criar um coletivo feminista para discussão e enfrentamento do machismo.

Atividades culturais também marcaram o evento, que teve abertura com o Coletivo Afro e encerramento com o Coletivo Me Representa, ambas com o objetivo de valorizar a cultura negra e denunciar o racismo.