Movimento estudantil paralisa atividades nesta quinta, 12, na Uesb campus de Vitória Conquista

Nesta quinta-feira, 12 de junho, a partir das 7h30, estudantes da Uesb em Vitória da Conquista irão paralisar suas atividades em mais uma etapa do calendário de mobilizações contra a precarização, sucateamento e corte orçamentário nas universidades estaduais baianas. A ação está sendo convocada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) – Gestão Maria Felipa, com apoio dos Centros Acadêmicos de Geografia, Engenharia Florestal, Economia, Ciências Sociais, Agronomia e Biologia.

Segundo a organização do movimento, os portões do campus serão fechados durante a paralisação, com acesso liberado apenas para estudantes e profissionais do CETEP, da Creche Bem-Querer e de setores considerados essenciais.

Mobilização multicampi

A paralisação faz parte de um processo de organização do movimento estudantil que vem se intensificando nos últimos meses. O calendário de mobilizações foi deliberado no Conselho de Entidades de Base (CEB) da Uesb, realizado em 12 de abril, com a participação dos três campi. Em Jequié, a paralisação ocorreu no dia 27 de maio.

No campus de Jequié, a mobilização foi organizada conjuntamente pelo DCE e pelo Diretório Acadêmico Indígena e Quilombola (DAIQ), com forte participação estudantil. Entre as pautas levantadas, estavam a precariedade do Restaurante Universitário, a falta de professores, especialmente para atender às demandas de estudantes indígenas e quilombolas, e a ausência de insumos e materiais básicos em diversos cursos.

Ana Paula Almeida, representante do DCE de Jequié, afirmou que a ação foi fundamental para visibilizar as dificuldades enfrentadas por estudantes mais vulnerabilizados. Entramos em contato com o movimento estudantil em Itapetinga, mas não obtivemos resposta até a publicação desta matéria.

Pautas acumuladas e impasses com a gestão

Em Vitória da Conquista, a principal pauta da paralisação é a situação crítica do serviço prestado no Restaurante Universitário. Estudantes denunciam a má qualidade da alimentação, os preços altos e o não cumprimento das cláusulas contratuais por parte da empresa terceirizada 2G2M, responsável pelo fornecimento das refeições. Há ainda reclamações sobre o funcionamento irregular do RU, que frequentemente encerra o atendimento antes do horário previsto, deixando estudantes, especialmente os do turno da noite, sem acesso à alimentação.

A secretária-geral do DCE/Conquista, Lívia Arcanjo, destaca que o diálogo com a administração superior da universidade e com a empresa contratada se esgotou. “O Restaurante Universitário tem sido uma pauta que a gente vem debatendo desde 2023. Tentamos resolver por dentro das instâncias, mas não houve resposta satisfatória. A paralisação é legítima e necessária. Não se trata de uma folga, mas de um dia de luta, com programação política, pedagógica e coletiva.”

Lívia também aponta alternativas para o problema da alimentação. “Defendemos que um dos quiosques abandonados seja transformado em uma cantina popular. Estudantes que vendem alimentos poderiam ocupar o espaço de forma digna, e o local teria micro-ondas, geladeira e estrutura para quem traz comida de casa poder almoçar.”

Precariedade estrutural e desafios à permanência

O movimento estudantil denuncia também a não realização de concursos de professores e professoras, técnica/os e analistas, a burocracia excessiva no acesso ao Programa de Assistência Estudantil (PRAE), que só realiza habilitação uma vez ao ano, além da precariedade estrutural que afeta cursos inteiros

Luiz Felipe, secretário-geral do Centro Acadêmico de Ciências Sociais, reforça que a mobilização é a única saída para conquistar melhorias. “A falta de docentes no nosso curso foi um problema enorme. Depois de muita luta, conseguimos agilizar a contratação de uma professora que já havia passado no concurso. Isso só aconteceu porque nós nos organizamos. O movimento estudantil é essencial para garantir avanços.”

Luiz também denuncia os impactos da falta de estrutura no turno da noite. “A Secretaria Geral de Cursos, que é essencial para resolver problemas com disciplinas, fecha à noite. Estudantes do noturno ficam sem suporte. Além disso, o RU, que deveria funcionar até 20h, às 18h30 já está sem comida. Isso fere diretamente o direito à alimentação e à permanência.”

Adusb declara apoio

A Diretoria da Adusb (Associação de Docentes da UESB) declarou apoio à paralisação estudantil e ressaltou que a construção da universidade pública é uma tarefa coletiva, baseada na aliança entre docentes, estudantes e técnicas/os e analistas. A entidade afirma que nenhuma pauta se conquista isoladamente. É com unidade, solidariedade e ação conjunta que se luta. Garantir a permanência estudantil é assegurar que estudantes, especialmente os/as mais vulneráveis, possam entrar, permanecer e concluir seus cursos com dignidade.

A Adusb reforça ainda que o protagonismo estudantil deve ser fortalecido, e não silenciado. Essa mobilização é parte da construção de um projeto coletivo de sociedade, que enfrenta o individualismo e a lógica mercantil que degradam o ensino e os direitos sociais.